Da esq.: Bertha Springer (sentada), Doris Baerwald (filha de Bertha de seu 1º casamento), Julius Springer (2º marido de Bertha), Ruth Springer (sentada ao centro, filha de Bertha e Julius), Gerhard (irmão de Ruth) e Caroline Baerwald (irmã de Doris, Ruth e Gerhart). Culmsee, hoje Chełmża (Polônia), prov. 1905

Julius e Bertha Springer. Culmsee, hoje Polônia, prov. 1916

Os irmãos Ruth Springer, Doris Baerwald e Gerhard Springer. Thorn, hoje Polônia, prov. 1897

Histórias de família: as cartas para Ruth Springer

Gerhard Springer nasceu em 22 de março de 1889 em Culmsee, hoje Polônia (Chełmża). Sua família representava um padrão de família judia que, no século 19 em consequência da Hazkalá (iluminismo judaico), incluiu-se na sociedade alemã, assimilou seus valores culturais e sociais e desfrutava de cidadania plena em suas cidades. O engajamento de judeus alemães na Primeira Guerra Mundial foi reflexo desse movimento.

Em suas cartas do fronte para a família e sua irmã Ruth, Gerhard tratava de assuntos cotidianos, como em 16 de março de 1915: “Queridos pais! Eu gostaria de chamar a sua atenção, que ontem em uma marcha noturna eu tive que ficar para trás por causa da minha mochila, que estava muito pesada. No dia seguinte, eu fiquei doente devido à taquicardia e agora me prescreveram descanso. Eu recebi em 10 dias 40 pacotes de vocês e mais quarenta de não sei quem, isso perfaz 80 pacotes. Como vocês acham que eu vou conseguir transportar tudo isso (…)”.

Mas em outras, descreve situações quase surreais, como na Páscoa de 1915, no dia 5 de abril: “Eu montei guarda de sábado pra domingo, quando tipo à uma da madrugada os russos começaram a cantar; cada vez mais alto, até que um coro de homens de muitas vozes atravessou a noite, eles cantavam suas típicas canções folclóricas melancólicas; foi ficando cada vez mais agitado, também do nosso lado, até que se ouviu o que os russos estavam gritando para nós: “Prussianos, desejamos Feliz Páscoa!” (…) Lá pelo meio-dia, boa parte da nossa companhia havia se reunido no nosso posto avançado e acenamos para os russos, que nos acenaram de volta, e todos saíram de suas posições; nós avançamos cerca de 60m, os russos 40m, e nos encontramos no meio; (…) ficou tudo lotado de soldados, trocamos charutos e salsichas por cigarros russos etc; (…) a conversa foi intermediada por um soldado russo, um judeu, que também falava alemão (…) As tropas causavam uma boa impressão, pareciam robustas; bom saber que ao menos se está lidando com um inimigo respeitável (…)”.

Gerhard caiu em combate pela sua Alemanha, em 1º de outubro de 1916, em Armentières, fronteira com a Bélgica. Sua bravura não vai ajudar sua família, especialmente sua irmã Ruth e seu sobrinho Ernst, quando se instala o regime nacional-socialista.