Jogodamemória
Nosso compromisso com a Recordação e nosso comprometimento com a Memória
Você pode reunir pessoas em torno de uma mesa em Erev (véspera de) Pessach, pode colocar um prato com todos os alimentos simbólicos no centro da mesa, ler da Hagadá (narrativa), realizar todo o ritual, recitar as orações e até ter as comidas da festa para o jantar. Se não estiverem sentados ali judeus e judias, não é um Seder (refeição ritual), é uma encenação. Isso vale para o cumprimento de diversos rituais ou comemorações dentro da nação israelita: é pelo indivíduo ou pela comunidade que esses eventos adquirem seu significado fundamental. A Shoá foi, por definição, o aniquilamento sistemático de judeus. Não há outra denominação. Há outras vítimas, há! Mas só há um Holocausto. O estabelecimento da data em que o Holocausto deveria ser recordado em Israel gerou acirrada discussão na Knesset (Parlamento), em 1951. Até então, em 1949 e 1950, o Iom Hashoá (Dia do Holocausto) era comemorado...
Histórias de família: as cartas para Ruth Springer
Gerhard Springer nasceu em 22 de março de 1889 em Culmsee, hoje Polônia (Chełmża). Sua família representava um padrão de família judia que, no século 19 em consequência da Hazkalá (iluminismo judaico), incluiu-se na sociedade alemã, assimilou seus valores culturais e sociais e desfrutava de cidadania plena em suas cidades. O engajamento de judeus alemães na Primeira Guerra Mundial foi reflexo desse movimento. Em suas cartas do fronte para a família e sua irmã Ruth, Gerhard tratava de assuntos cotidianos, como em 16 de março de 1915: “Queridos pais! Eu gostaria de chamar a sua atenção, que ontem em uma marcha noturna eu tive que ficar para trás por causa da minha mochila, que estava muito pesada. No dia seguinte, eu fiquei doente devido à taquicardia e agora me prescreveram descanso. Eu recebi em 10 dias 40 pacotes de vocês e mais quarenta de não sei quem, isso perfaz 80...
Integridade e integração: judeus na sociedade brasileira
Significativos, ainda que imprecisos, são os anos da presença judaica no Brasil. Eles podem variar de acordo com a contagem escolhida: se desde o período das Grandes Navegações, ou por conta da Inquisição na Península Ibérica, ou da imigração marroquina, ou em virtude das perseguições czarista, nazista, comunista… ou de quando partiram em busca de um futuro próspero e seguro para si e seus descendentes. Judeus, que sempre se movimentaram pelo Velho Mundo, também encontraram seus caminhos para o Novo Mundo. A presença dos judeus no Brasil foi muitas vezes indesejada e, de certo modo, invalidada, por questões alheias à forma com que pragmaticamente se relacionaram com o País: criando seus filhos, aprendendo o idioma, incorporando hábitos, fundando instituições para o bem comum e empresas, viabilizando o presente e semeando o futuro. Do escritor judeu austríaco Stefan Zweig (Viena, 1881– Petrópolis, 1942) é a expressão “Brasil, País do futuro”. Zweig...
O drama dos museus e a dualidade da Memória
O aspecto espiritual de nossa existência está fundamentado em uma conexão ancestral, através de um passado compartilhado e um presente imaterial, invocado e outorgado por um ser sobrenatural. A expressão “nosso Deus e de nossos patriarcas e nossas matriarcas” revela essa conexão atemporal e contínua, com origem e sem fim. A espiritualidade, como conhecida ou almejada pelo ser humano, independe de nossa engenhosidade. O mundo material, entretanto, é a manifestação elementar da habilidade humana de criar e experimentar, de expressar-se e relacionar-se com seu entorno e seus semelhantes. A produção de um parafuso ou uma pintura é decorrência de nossa capacidade particular de observar, compreender e interagir. Os objetos de uso cerimonial ou ritual encontram-se na tangente desses dois mundos, o espiritual e o material. Eles são nossos lembretes de uma camada intocável da existência. No Judaísmo, esses objetos não são intrinsicamente sagrados. Definitivamente, não são sagrados. Até mesmo as...
A vida e a obra do Rabino Dr. Henrique Lemle
A carreira do Rabino Dr. Henrique Lemle começou com sua ascensão ao púlpito da sinagoga de Mannheim no dia 1º de abril de 1933 – o dia na Alemanha do boicote aos judeus, seus estabelecimentos, lojas, consultórios e escritórios de advocacia. Seu tio, pai de sua futura esposa Margot, foi uma das primeiras vítimas da perseguição nazista durante um pogrom em Creglingen no fim de março de 1933. Contratado pela comunidade liberal de Frankfurt am Main em 1934, Lemle foi o primeiro rabino a ocupar o posto de rabino para a juventude e atuou em Frankfurt até sua deportação para o campo de Buchenwald, em consequência do Reichspogromnacht de 9 para 10 de novembro de 1938, mais conhecido como Noite dos Cristais. Ele foi salvo de Buchenwald através da intervenção da World Union for Progressive Judaism em Londres, e pode assim refugiar-se na Inglaterra. Lá, mais uma vez, foi retido...
Os primórdios da imigração dos judeus alemães para o Rio
A história da União Associação Beneficente Israelita antecede sua fundação em 1937 e tem sua origem em meados dos anos de 1930, com a chegada dos primeiros refugiados judeus oriundos da Alemanha ao Rio de Janeiro e São Paulo. Eles são assistidos e albergados por um grupo de imigrantes de várias origens, especialmente da Europa Oriental, já estabelecidos no Brasil, na velha sede do Relief Sociedade Beneficente Israelita, na rua Joaquim Palhares, na Praça XI. Mais de cem refugiados são instalados ali, enquanto para outros são providenciadas acomodações em pensões e casas particulares. Em 1933, um pequeno grupo de imigrantes judeus alemães passa a se reunir em um clube que denominam de “Centro 33” na Rua Marquês de Paraná, para trocar experiências e informações, mas também para cultivar hábitos culturais e religiosos da pátria perdida. No ano seguinte, este grupo realiza por conta própria os primeiros serviços religiosos de Rosh Hashaná e...
A Torá carrega a coroa
“Nachamu, nachamu ami…” Ainda não esqueci essa melodia. É da Haftará deste próximo Shabat, Shabat Nachamu. O Shabat em que, há 39 anos, eu celebrei o meu Bar Mitsvá. Não precisam fazer muitas contas: fiz 52 – 4 vezes Bar Mitsvá essa semana. Essa melodia e essas três primeiras palavras de Isaías, que suplica que seu povo seja consolado pela tragédia da destruição do Templo, eu talvez jamais esqueça. No livro de Devarim – palavras, as palavras que Moisés dirigiu ao povo –, a saga dos israelitas é repetida, as leis de Deus são relembradas, ratificadas e estendidas, e nesta parashá Vaet’chanan o fundamento peculiar desta nação dentre os outros povos é enfatizada: os israelitas têm um Deus único e são, com esse Deus único, parceiros na Criação, responsáveis uns pelos outros e por tudo que habita a Terra. A partir de um olhar histórico, a Torá hoje é composta de cinco livros,...
Homem justo, irrepreensível era Nôach em sua geração
Gênesis é pura poesia. É para ser lido inúmeras vezes e, a cada leitura, desvendar uma nova camada, um novo significado. A densidade do livro de Gênesis é um desafio à matéria e à física. Como judeus liberais, extraímos do texto que está aí aquilo que nos leva para além do que está ali escrito. Decolamos da literalidade e alçamos o voo da compreensão e do entendimento tendo contemporaneidade como cenário. A parashá Nôach é repleta de matrizes importantes que tanto inspiraram épicos hollywoodianos quanto são símbolos indispensáveis no nosso mundo contemporâneo. Em Nôach acontece de tudo: o dilúvio regenerador sobre uma Terra entregue à injustiça e à corrupção; a ruína da torre de Babel que gera confusão e desentendimento; a menção de Abrão e Sarai ainda antes de se tornarem o patriarca Abraão e a matriarca Sara; a pomba com o ramo de oliveira – símbolo da Paz na...
Meu amigo, o rabino Dr. Henrique Lemle
Não conheci Dr. Lemle. Eu tinha oito anos quando ele faleceu em 1978, e minha família não frequentava a sinagoga da ARI. Era aluno de um colégio comunista, aprendia iídish na escola, frequentava o Shomer Hatzair. Conhecia as histórias da Bíblia como relatos históricos e acontecimentos folclóricos. As festas eram oportunidades de reunir a família e comer os quitutes de receitas herdadas de um passado remoto na Europa Oriental. Deus ou religião nunca foram um grande tema. Mas Dr. Lemle – assim teria me dirigido a ele, como todos os que gozaram da sua convivência – mudou minha vida! Ter acesso à filosofia e aos ideais do Judaísmo reformista através de seus líderes espirituais e laicos, dos congregantes e das atividades, ao me aproximar da ARI na década de 1980, me encantou. O legado de Lemle – assim o chamo na minha intimidade de pesquisa – transcende seus contemporâneos e...
Histórias de família: as cartas para Ruth Springer
Gerhard Springer nasceu em 22 de março de 1889 em Culmsee, hoje Polônia (Chełmża). Sua família representava um padrão de família judia que, no século 19 em consequência da Hazkalá (iluminismo judaico), incluiu-se na sociedade alemã, assimilou seus valores culturais e sociais e desfrutava de cidadania plena em suas cidades. O engajamento de judeus alemães na Primeira Guerra Mundial foi reflexo desse movimento. Em suas cartas do fronte para a família e sua irmã Ruth, Gerhard tratava de assuntos cotidianos, como em 16 de março de 1915: “Queridos pais! Eu gostaria de chamar a sua atenção, que ontem em uma marcha noturna eu tive que ficar para trás por causa da minha mochila, que estava muito pesada. No dia seguinte, eu fiquei doente devido à taquicardia e agora me prescreveram descanso. Eu recebi em 10 dias 40 pacotes de vocês e mais quarenta de não sei quem, isso perfaz 80...
Nosso compromisso com a Recordação e nosso comprometimento com a Memória
Você pode reunir pessoas em torno de uma mesa em Erev (véspera de) Pessach, pode colocar um prato com todos os alimentos simbólicos no centro da mesa, ler da Hagadá (narrativa), realizar todo o ritual, recitar as orações e até ter as comidas da festa para o jantar. Se não estiverem sentados ali judeus e judias, não é um Seder (refeição ritual), é uma encenação. Isso vale para o cumprimento de diversos rituais ou comemorações dentro da nação israelita: é pelo indivíduo ou pela comunidade que esses eventos adquirem seu significado fundamental. A Shoá foi, por definição, o aniquilamento sistemático de judeus. Não há outra denominação. Há outras vítimas, há! Mas só há um Holocausto. O estabelecimento da data em que o Holocausto deveria ser recordado em Israel gerou acirrada discussão na Knesset (Parlamento), em 1951. Até então, em 1949 e 1950, o Iom Hashoá (Dia do Holocausto) era comemorado...
Quem somos neste momento?
A leitura da parashá desta semana, Pinchás, chamou minha atenção para a dualidade moral e circunstancial do nosso julgamento: Pinchás é recompensado com a honra do sacerdócio eterno para sua família por um assassinato. No mundo de hoje, não conseguimos nos relacionar com esse fato. As filhas de Tselofchad são beneficiadas com a herança de seu pai. Elas procuram Moisés que vai a Deus se consultar. E Deus acha justo que elas, na ausência de um varão, recebam a herança. Deus estabelece assim esta lei com que hoje conseguimos nos relacionar muito bem. Um sinal de que nossa aproximação ao texto da Torá está atrelada ao nosso tempo e ao nosso espaço. Um judeu que tenha lido esta parashá no ano 230, em uma cultura machista e fechada, pode justo ter achado o oposto de nós aqui hoje:, uma afronta o direito das filhas de Tselofchad e muito justa a “passada de mão na cabeça” de Pinchás. Intrigado, fui à haftará. Geralmente de um profeta, a haftará amarra a parashá da semana, por uma conclusão explícita ou apenas pela menção de uma ou outra palavra que se relaciona ao texto. Para...
Digitalização do Cadastro Histórico de Associados da ARI
Heritage and History (H&H) e a Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro (ARI) empreendem em cooperação a digitalização do Cadastro Histórico da ARI, que data da década de 1940. A digitalização deste cadastro vai gerar um conjunto de informações sobre pessoas que ainda não tiveram os seus destinos devidamente registrados e analisados na história da trajetória da comunidade judaica no século 20. O registro de pessoas e, por consequência, a elaboração de suas biografias permitem, ao mesmo tempo, a melhor compreensão do seu destino pessoal e familiar, mas também a descoberta do destino comum de populações específicas.
Vocês foram estrangeiros na terra do Egito
O texto dessa parashá me coloca numa situação um pouco delicada, pois traz leis, regras– mishpatim. Não que eu não as aprecie e não goste de ordem e disciplina. Não é à toa que estudei para ser designer gráfico, colocando textos, cores e imagens em ordem. Mas geralmente me incomodam certas aplicações de leis como ordenadas na Torá, ou por seu rigor datado de séculos ou milênios, ou por sua falta de contemporaneidade ou contexto. Por isso, sou um fiel defensor da abordagem adequada ao nosso tempo e momento. Mas especialmente esse trecho da Torá traz algo não só atualíssimo, como também fundamental para a formação da conduta ética do povo judeu em qualquer tempo: o trato com o outro que está numa situação menos privilegiada que você, ou porque assim o é, ou por essa situação ter sido provocada por você. No caso da parashá: os servos e os estrangeiros,...
Vocês foram estrangeiros na terra do Egito
O texto dessa parashá me coloca numa situação um pouco delicada, pois traz leis, regras– mishpatim. Não que eu não as aprecie e não goste de ordem e disciplina. Não é à toa que estudei para ser designer gráfico, colocando textos, cores e imagens em ordem. Mas geralmente me incomodam certas aplicações de leis como ordenadas na Torá, ou por seu rigor datado de séculos ou milênios, ou por sua falta de contemporaneidade ou contexto. Por isso, sou um fiel defensor da abordagem adequada ao nosso tempo e momento. Mas especialmente esse trecho da Torá traz algo não só atualíssimo, como também fundamental para a formação da conduta ética do povo judeu em qualquer tempo: o trato com o outro que está numa situação menos privilegiada que você, ou porque assim o é, ou por essa situação ter sido provocada por você. No caso da parashá: os servos e os estrangeiros,...
Quem somos neste momento?
A leitura da parashá desta semana, Pinchás, chamou minha atenção para a dualidade moral e circunstancial do nosso julgamento: Pinchás é recompensado com a honra do sacerdócio eterno para sua família por um assassinato. No mundo de hoje, não conseguimos nos relacionar com esse fato. As filhas de Tselofchad são beneficiadas com a herança de seu pai. Elas procuram Moisés que vai a Deus se consultar. E Deus acha justo que elas, na ausência de um varão, recebam a herança. Deus estabelece assim esta lei com que hoje conseguimos nos relacionar muito bem. Um sinal de que nossa aproximação ao texto da Torá está atrelada ao nosso tempo e ao nosso espaço. Um judeu que tenha lido esta parashá no ano 230, em uma cultura machista e fechada, pode justo ter achado o oposto de nós aqui hoje:, uma afronta o direito das filhas de Tselofchad e muito justa a “passada de mão na cabeça” de Pinchás. Intrigado, fui à haftará. Geralmente de um profeta, a haftará amarra a parashá da semana, por uma conclusão explícita ou apenas pela menção de uma ou outra palavra que se relaciona ao texto. Para...
Quando o horror se transforma em terror
A Reichspogromnacht, também denominada ingenuamente de Kristallnacht – A Noite dos Cristais –, marca para os judeus alemães a transformação do horror em terror e o início da violência física ostensiva e sistemática. Até então, a perseguição aos judeus acontecia geralmente pela forma da coerção e da exclusão através de leis racistas e segregacionistas. A partir daí, a integridade física da população judaica fica oficialmente ameaçada, e tanto o desejo quanto a necessidade de emigração atingem seu grau de desespero: a corrida para fora da Alemanha torna-se uma questão urgente de sobrevivência. Esta noite simboliza o fim do Judaísmo alemão, como se conhecia até então – sinagogas são queimadas, milhares de homens judeus são presos e levados para campos de concentração, seus recursos para sobrevivência são extintos, seu meio social é suprimido. Aqueles que podem, por conhecimento ou possibilidade financeira, refugiam-se em países próximos ou distantes, como o Brasil. Os...
A Torá carrega a coroa
“Nachamu, nachamu ami…” Ainda não esqueci essa melodia. É da Haftará deste próximo Shabat, Shabat Nachamu. O Shabat em que, há 39 anos, eu celebrei o meu Bar Mitsvá. Não precisam fazer muitas contas: fiz 52 – 4 vezes Bar Mitsvá essa semana. Essa melodia e essas três primeiras palavras de Isaías, que suplica que seu povo seja consolado pela tragédia da destruição do Templo, eu talvez jamais esqueça. No livro de Devarim – palavras, as palavras que Moisés dirigiu ao povo –, a saga dos israelitas é repetida, as leis de Deus são relembradas, ratificadas e estendidas, e nesta parashá Vaet’chanan o fundamento peculiar desta nação dentre os outros povos é enfatizada: os israelitas têm um Deus único e são, com esse Deus único, parceiros na Criação, responsáveis uns pelos outros e por tudo que habita a Terra. A partir de um olhar histórico, a Torá hoje é composta de cinco livros,...
Quando o horror se transforma em terror
A Reichspogromnacht, também denominada ingenuamente de Kristallnacht – A Noite dos Cristais –, marca para os judeus alemães a transformação do horror em terror e o início da violência física ostensiva e sistemática. Até então, a perseguição aos judeus acontecia geralmente pela forma da coerção e da exclusão através de leis racistas e segregacionistas. A partir daí, a integridade física da população judaica fica oficialmente ameaçada, e tanto o desejo quanto a necessidade de emigração atingem seu grau de desespero: a corrida para fora da Alemanha torna-se uma questão urgente de sobrevivência. Esta noite simboliza o fim do Judaísmo alemão, como se conhecia até então – sinagogas são queimadas, milhares de homens judeus são presos e levados para campos de concentração, seus recursos para sobrevivência são extintos, seu meio social é suprimido. Aqueles que podem, por conhecimento ou possibilidade financeira, refugiam-se em países próximos ou distantes, como o Brasil. Os...
A vida e a obra do Rabino Dr. Henrique Lemle
A carreira do Rabino Dr. Henrique Lemle começou com sua ascensão ao púlpito da sinagoga de Mannheim no dia 1º de abril de 1933 – o dia na Alemanha do boicote aos judeus, seus estabelecimentos, lojas, consultórios e escritórios de advocacia. Seu tio, pai de sua futura esposa Margot, foi uma das primeiras vítimas da perseguição nazista durante um pogrom em Creglingen no fim de março de 1933. Contratado pela comunidade liberal de Frankfurt am Main em 1934, Lemle foi o primeiro rabino a ocupar o posto de rabino para a juventude e atuou em Frankfurt até sua deportação para o campo de Buchenwald, em consequência do Reichspogromnacht de 9 para 10 de novembro de 1938, mais conhecido como Noite dos Cristais. Ele foi salvo de Buchenwald através da intervenção da World Union for Progressive Judaism em Londres, e pode assim refugiar-se na Inglaterra. Lá, mais uma vez, foi retido...
Digitalização do Cadastro Histórico de Associados da ARI
Heritage and History (H&H) e a Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro (ARI) empreendem em cooperação a digitalização do Cadastro Histórico da ARI, que data da década de 1940. A digitalização deste cadastro vai gerar um conjunto de informações sobre pessoas que ainda não tiveram os seus destinos devidamente registrados e analisados na história da trajetória da comunidade judaica no século 20. O registro de pessoas e, por consequência, a elaboração de suas biografias permitem, ao mesmo tempo, a melhor compreensão do seu destino pessoal e familiar, mas também a descoberta do destino comum de populações específicas.
O drama dos museus e a dualidade da Memória
O aspecto espiritual de nossa existência está fundamentado em uma conexão ancestral, através de um passado compartilhado e um presente imaterial, invocado e outorgado por um ser sobrenatural. A expressão “nosso Deus e de nossos patriarcas e nossas matriarcas” revela essa conexão atemporal e contínua, com origem e sem fim. A espiritualidade, como conhecida ou almejada pelo ser humano, independe de nossa engenhosidade. O mundo material, entretanto, é a manifestação elementar da habilidade humana de criar e experimentar, de expressar-se e relacionar-se com seu entorno e seus semelhantes. A produção de um parafuso ou uma pintura é decorrência de nossa capacidade particular de observar, compreender e interagir. Os objetos de uso cerimonial ou ritual encontram-se na tangente desses dois mundos, o espiritual e o material. Eles são nossos lembretes de uma camada intocável da existência. No Judaísmo, esses objetos não são intrinsicamente sagrados. Definitivamente, não são sagrados. Até mesmo as...
100 anos de história, alguns milênios de Memória
Agradeço ter sido convidado a dizer algumas palavras nessa comemoração tão significativa para a comunidade judaica carioca, para a comunidade judaica brasileira, mas também e em especial para o Brasil, o país que acolheu meus avós e muitos dos antepassados daqueles que estão aqui hoje celebrando. Ou até mesmo aqueles que estão aqui hoje celebrando! Na minha juventude, trabalhei como pesquisador no Projeto Heranças e Lembranças – imigrantes judeus no Rio de Janeiro. Durante quase quatro anos, a pesquisa entrevistou imigrantes judeus de todas as partes para o Rio e culminou com uma exposição no Museu Histórico Nacional, na Praça XV, em 1989. Por que mencionar isso é mais significativo do que apenas uma história pessoal e curricular? Aquela foi a primeira vez que a presença judaica foi chancelada por uma instituição brasileira responsável pela narrativa histórica da formação da população brasileira. Pela primeira vez, estávamos sendo apresentados como comunidade...
Mulheres solidárias: uma rede tecida a muitas mãos
Os 100 anos do Froien Farain contam várias histórias. Registrar essas histórias em uma publicação comemorativa é também registrar a Memória da comunidade judaica do Rio de Janeiro e do Brasil. A publicação bilingue (português e inglês), lançada em 25 de agosto de 2024, mostra que as ativistas do Froien Farain são hoje, individual e coletivamente, um elo importante na herança e tradição judaicas de solidariedade e participação das mulheres. O Brasil havia acabado de comemorar seus 100 anos de independência e a jovem República, livre da escravidão, reorganizava sua sociedade, com mais integração e liberdade religiosa. Na capital federal, novos edifícios públicos e privados transformavam o Rio na Cidade Maravilhosa e o fluxo migratório se intensificava, com a chegada de navios trazendo imigrantes de todo o mundo, dentre eles um número considerável de imigrantes judeus do Leste europeu. Neste contexto, mulheres judias imigrantes, reunidas pela primeira vez em 1923,...
A noite dos corações partidos e dos vidros quebrados
Somente a partir do século 19, judeus começaram a gozar de diretos civis em alguns ducados e condados e principados que constituíam a União das Nações alemãs. No início do século 19, Napoleão Bonaparte trouxe para os territórios que conquistou nesse conglomerado de estados um conjunto de direitos iguais para todos, que foram mantidos com a unificação alemã em 1871 e ratificados com a República de Weimar em 1918. Para entender o mind set, a mentalidade de muitos dos judeus que viviam na Alemanha, e o processo que culminou com a Noite dos Vidros Quebrados (ou Noite dos Estilhaços), a Kristallnacht, é importante elucidar alguns conceitos acerca do modo de vida na Alemanha e recapitular eventos da comunidade da ARI e seus associados, relacionando-os a eventos históricos. As vantagens de pertencer a uma nação eram muitas para aqueles judeus no século 19 e início do 20. A forte identificação com Ashkenaz, denominação em...
100 anos de história, alguns milênios de Memória
Agradeço ter sido convidado a dizer algumas palavras nessa comemoração tão significativa para a comunidade judaica carioca, para a comunidade judaica brasileira, mas também e em especial para o Brasil, o país que acolheu meus avós e muitos dos antepassados daqueles que estão aqui hoje celebrando. Ou até mesmo aqueles que estão aqui hoje celebrando! Na minha juventude, trabalhei como pesquisador no Projeto Heranças e Lembranças – imigrantes judeus no Rio de Janeiro. Durante quase quatro anos, a pesquisa entrevistou imigrantes judeus de todas as partes para o Rio e culminou com uma exposição no Museu Histórico Nacional, na Praça XV, em 1989. Por que mencionar isso é mais significativo do que apenas uma história pessoal e curricular? Aquela foi a primeira vez que a presença judaica foi chancelada por uma instituição brasileira responsável pela narrativa histórica da formação da população brasileira. Pela primeira vez, estávamos sendo apresentados como comunidade...
Judeus no Brasil: imigração e diversidade
Diante da importância de ampliar as coleções museológicas que representem as diversas faces da experiência histórica brasileira, o projeto “Judeus no Brasil: imigração e diversidade” tem como propósito desenvolver um olhar crítico sobre o acervo do Museu Histórico Nacional (MHN) do ponto de vista da história dos judeus no Brasil e construir uma coleção de objetos tridimensionais, valorizando a cultura material da experiência da imigração e processos de construção das comunidades judaicas do Brasil. Estas comunidades, por sua diversidade étnica e de origem, marcam cultural e historicamente a sociedade brasileira, sendo um importante elemento da brasilidade pouco representado no atual acervo do MHN. O Museu Histórico Nacional foi criado em 1922 no âmbito das comemorações do centenário da Independência do Brasil. Suas primeiras coleções indicavam uma chave de leitura da história que enaltecia feitos militares, religiosos, do Estado nacional e dos seus agentes de governo. Na década de 1980, com...
Mulheres solidárias: uma rede tecida a muitas mãos
Os 100 anos do Froien Farain contam várias histórias. Registrar essas histórias em uma publicação comemorativa é também registrar a Memória da comunidade judaica do Rio de Janeiro e do Brasil. A publicação bilingue (português e inglês), lançada em 25 de agosto de 2024, mostra que as ativistas do Froien Farain são hoje, individual e coletivamente, um elo importante na herança e tradição judaicas de solidariedade e participação das mulheres. O Brasil havia acabado de comemorar seus 100 anos de independência e a jovem República, livre da escravidão, reorganizava sua sociedade, com mais integração e liberdade religiosa. Na capital federal, novos edifícios públicos e privados transformavam o Rio na Cidade Maravilhosa e o fluxo migratório se intensificava, com a chegada de navios trazendo imigrantes de todo o mundo, dentre eles um número considerável de imigrantes judeus do Leste europeu. Neste contexto, mulheres judias imigrantes, reunidas pela primeira vez em 1923,...
O Copo de Kidush
A presença do copo de kidush entre os objetos de Judaica (coleção de objetos judaicos de uso ritual e cotidiano) se deve unicamente ao fato de ser o recipiente onde se encontra o vinho. O vinho foi mencionado pela primeira vez no Talmud em uma longa discussão sobre a ordem da bênção sobre os frutos da videira, e desde então permaneceu o costume de bebê-lo após as orações. Foi somente sob a influência do Helenismo que o vinho foi utilizado nos serviços religiosos no Templo de Jerusalém. Até então era somente derramado nos altares do santuário como ritual de libação. O fato de o copo (de kidush) conter uma das bebidas mais famosas e populares tornou-o necessariamente foco de atenção especial. Foram utilizados materiais e técnicas desde os mais simples aos mais sofisticados, do Extremo Oriente até os países ocidentais. O copo cerimonial está sempre na mesa e no ritual...
O Copo de Kidush
A presença do copo de kidush entre os objetos de Judaica (coleção de objetos judaicos de uso ritual e cotidiano) se deve unicamente ao fato de ser o recipiente onde se encontra o vinho. O vinho foi mencionado pela primeira vez no Talmud em uma longa discussão sobre a ordem da bênção sobre os frutos da videira, e desde então permaneceu o costume de bebê-lo após as orações. Foi somente sob a influência do Helenismo que o vinho foi utilizado nos serviços religiosos no Templo de Jerusalém. Até então era somente derramado nos altares do santuário como ritual de libação. O fato de o copo (de kidush) conter uma das bebidas mais famosas e populares tornou-o necessariamente foco de atenção especial. Foram utilizados materiais e técnicas desde os mais simples aos mais sofisticados, do Extremo Oriente até os países ocidentais. O copo cerimonial está sempre na mesa e no ritual...
Judeus no Brasil: imigração e diversidade
Diante da importância de ampliar as coleções museológicas que representem as diversas faces da experiência histórica brasileira, o projeto “Judeus no Brasil: imigração e diversidade” tem como propósito desenvolver um olhar crítico sobre o acervo do Museu Histórico Nacional (MHN) do ponto de vista da história dos judeus no Brasil e construir uma coleção de objetos tridimensionais, valorizando a cultura material da experiência da imigração e processos de construção das comunidades judaicas do Brasil. Estas comunidades, por sua diversidade étnica e de origem, marcam cultural e historicamente a sociedade brasileira, sendo um importante elemento da brasilidade pouco representado no atual acervo do MHN. O Museu Histórico Nacional foi criado em 1922 no âmbito das comemorações do centenário da Independência do Brasil. Suas primeiras coleções indicavam uma chave de leitura da história que enaltecia feitos militares, religiosos, do Estado nacional e dos seus agentes de governo. Na década de 1980, com...
Os Haberer: exemplo de continuidade
Originários da região de Offenburg, os Haberer estabeleceram-se no século 19 em Konstanz, no sul da Alemanha. Ali, Leo Haberer iniciou seu negócio com sapatos na Bodanstrasse 22-26. Hoje, assim como no início do século, Konstanz (Alemanha) e Kreuzlingen (Suíça) são cidades fronteiriças e, no cotidiano dos seus habitantes, não há, de fato, uma barreira: suíços e alemães dividem linhas de ônibus, centros culturais e esportivos e transitam de um lado ao outro para fazer compras. Esta situação só foi suspensa duas vezes na história: a primeira durante os anos do regime nacional-socialista, com a instalação de uma fronteira física que interrompeu este intercâmbio, e recentemente durante a pandemia do COVID-19. Durante e após a Primeira Guerra Mundial, várias famílias judias migraram de Konstanz para Kreuzlingen em busca de melhores oportunidades de negócio e, provavelmente, pela neutralidade da Suíça em tempos de guerra. Esta migração cresceu a partir de 1933...
Os Haberer: exemplo de continuidade
Originários da região de Offenburg, os Haberer estabeleceram-se no século 19 em Konstanz, no sul da Alemanha. Ali, Leo Haberer iniciou seu negócio com sapatos na Bodanstrasse 22-26. Hoje, assim como no início do século, Konstanz (Alemanha) e Kreuzlingen (Suíça) são cidades fronteiriças e, no cotidiano dos seus habitantes, não há, de fato, uma barreira: suíços e alemães dividem linhas de ônibus, centros culturais e esportivos e transitam de um lado ao outro para fazer compras. Esta situação só foi suspensa duas vezes na história: a primeira durante os anos do regime nacional-socialista, com a instalação de uma fronteira física que interrompeu este intercâmbio, e recentemente durante a pandemia do COVID-19. Durante e após a Primeira Guerra Mundial, várias famílias judias migraram de Konstanz para Kreuzlingen em busca de melhores oportunidades de negócio e, provavelmente, pela neutralidade da Suíça em tempos de guerra. Esta migração cresceu a partir de 1933...
Integridade e integração: judeus na sociedade brasileira
Significativos, ainda que imprecisos, são os anos da presença judaica no Brasil. Eles podem variar de acordo com a contagem escolhida: se desde o período das Grandes Navegações, ou por conta da Inquisição na Península Ibérica, ou da imigração marroquina, ou em virtude das perseguições czarista, nazista, comunista… ou de quando partiram em busca de um futuro próspero e seguro para si e seus descendentes. Judeus, que sempre se movimentaram pelo Velho Mundo, também encontraram seus caminhos para o Novo Mundo. A presença dos judeus no Brasil foi muitas vezes indesejada e, de certo modo, invalidada, por questões alheias à forma com que pragmaticamente se relacionaram com o País: criando seus filhos, aprendendo o idioma, incorporando hábitos, fundando instituições para o bem comum e empresas, viabilizando o presente e semeando o futuro. Do escritor judeu austríaco Stefan Zweig (Viena, 1881– Petrópolis, 1942) é a expressão “Brasil, País do futuro”. Zweig...
Meu amigo, o rabino Dr. Henrique Lemle
Não conheci Dr. Lemle. Eu tinha oito anos quando ele faleceu em 1978, e minha família não frequentava a sinagoga da ARI. Era aluno de um colégio comunista, aprendia iídish na escola, frequentava o Shomer Hatzair. Conhecia as histórias da Bíblia como relatos históricos e acontecimentos folclóricos. As festas eram oportunidades de reunir a família e comer os quitutes de receitas herdadas de um passado remoto na Europa Oriental. Deus ou religião nunca foram um grande tema. Mas Dr. Lemle – assim teria me dirigido a ele, como todos os que gozaram da sua convivência – mudou minha vida! Ter acesso à filosofia e aos ideais do Judaísmo reformista através de seus líderes espirituais e laicos, dos congregantes e das atividades, ao me aproximar da ARI na década de 1980, me encantou. O legado de Lemle – assim o chamo na minha intimidade de pesquisa – transcende seus contemporâneos e...
Os primórdios da imigração dos judeus alemães para o Rio
A história da União Associação Beneficente Israelita antecede sua fundação em 1937 e tem sua origem em meados dos anos de 1930, com a chegada dos primeiros refugiados judeus oriundos da Alemanha ao Rio de Janeiro e São Paulo. Eles são assistidos e albergados por um grupo de imigrantes de várias origens, especialmente da Europa Oriental, já estabelecidos no Brasil, na velha sede do Relief Sociedade Beneficente Israelita, na rua Joaquim Palhares, na Praça XI. Mais de cem refugiados são instalados ali, enquanto para outros são providenciadas acomodações em pensões e casas particulares. Em 1933, um pequeno grupo de imigrantes judeus alemães passa a se reunir em um clube que denominam de “Centro 33” na Rua Marquês de Paraná, para trocar experiências e informações, mas também para cultivar hábitos culturais e religiosos da pátria perdida. No ano seguinte, este grupo realiza por conta própria os primeiros serviços religiosos de Rosh Hashaná e...
Homem justo, irrepreensível era Nôach em sua geração
Gênesis é pura poesia. É para ser lido inúmeras vezes e, a cada leitura, desvendar uma nova camada, um novo significado. A densidade do livro de Gênesis é um desafio à matéria e à física. Como judeus liberais, extraímos do texto que está aí aquilo que nos leva para além do que está ali escrito. Decolamos da literalidade e alçamos o voo da compreensão e do entendimento tendo contemporaneidade como cenário. A parashá Nôach é repleta de matrizes importantes que tanto inspiraram épicos hollywoodianos quanto são símbolos indispensáveis no nosso mundo contemporâneo. Em Nôach acontece de tudo: o dilúvio regenerador sobre uma Terra entregue à injustiça e à corrupção; a ruína da torre de Babel que gera confusão e desentendimento; a menção de Abrão e Sarai ainda antes de se tornarem o patriarca Abraão e a matriarca Sara; a pomba com o ramo de oliveira – símbolo da Paz na...
O amor está no ar. A escolha entre o que atraímos e o que rejeitamos
Nosso Rio, o Brasil, o mundo, nós mudamos nos últimos anos. Nossas relações familiares se expandiram, nossos relacionamentos se transformaram, nosso meio ambiente se transfigurou. A humanidade (ocidental) se permite um olhar mais tolerante e acolhedor em relação às minorias, aos costumes e às culturas. A todos queremos incluir, às vezes, desafiando nossa crença e nosso conhecimento acerca de nossa sociedade, que se cristalizaram ao longo de décadas, séculos ou milênios. Mas será que somos hoje tão abertos assim, em contraponto ao mundo que nos foi legado? Nossa experiência do passado é a leitura de historiadores do que um dia foi realidade e aquilo que filtramos através de nosso olhar atual. Assim, nos constituímos homens e mulheres livres (Weltmensch), cidadãos e cidadãs conscientes (Freidenker), judeus e judias liberais. O Renascimento e o Iluminismo nos obrigaram a ver o mundo com os olhos da razão. O véu das sensações, da magia,...
A noite dos corações partidos e dos vidros quebrados
Somente a partir do século 19, judeus começaram a gozar de diretos civis em alguns ducados e condados e principados que constituíam a União das Nações alemãs. No início do século 19, Napoleão Bonaparte trouxe para os territórios que conquistou nesse conglomerado de estados um conjunto de direitos iguais para todos, que foram mantidos com a unificação alemã em 1871 e ratificados com a República de Weimar em 1918. Para entender o mind set, a mentalidade de muitos dos judeus que viviam na Alemanha, e o processo que culminou com a Noite dos Vidros Quebrados (ou Noite dos Estilhaços), a Kristallnacht, é importante elucidar alguns conceitos acerca do modo de vida na Alemanha e recapitular eventos da comunidade da ARI e seus associados, relacionando-os a eventos históricos. As vantagens de pertencer a uma nação eram muitas para aqueles judeus no século 19 e início do 20. A forte identificação com Ashkenaz, denominação em...
O amor está no ar. A escolha entre o que atraímos e o que rejeitamos
Nosso Rio, o Brasil, o mundo, nós mudamos nos últimos anos. Nossas relações familiares se expandiram, nossos relacionamentos se transformaram, nosso meio ambiente se transfigurou. A humanidade (ocidental) se permite um olhar mais tolerante e acolhedor em relação às minorias, aos costumes e às culturas. A todos queremos incluir, às vezes, desafiando nossa crença e nosso conhecimento acerca de nossa sociedade, que se cristalizaram ao longo de décadas, séculos ou milênios. Mas será que somos hoje tão abertos assim, em contraponto ao mundo que nos foi legado? Nossa experiência do passado é a leitura de historiadores do que um dia foi realidade e aquilo que filtramos através de nosso olhar atual. Assim, nos constituímos homens e mulheres livres (Weltmensch), cidadãos e cidadãs conscientes (Freidenker), judeus e judias liberais. O Renascimento e o Iluminismo nos obrigaram a ver o mundo com os olhos da razão. O véu das sensações, da magia,...